sábado, 30 de abril de 2011

Demóstenes na revista Época


A Lei nº 11.343, sobre o tráfico de drogas, foi criada em 2006 com uma inovação: reconhecia a figura do usuário e dava a ele tratamento diferente do recebido pelo traficante. A legislação foi comemorada como um avanço. Esperava-se que, com o novo texto, usuários deixassem de ser mandados para as prisões, onde se misturavam aos verdadeiros bandidos. Cinco anos depois, constata-se que o maior reflexo da lei é o aumento da população carcerária. Um estudo feito por Pedro Abramovay, professor de Direito da Fundação Getulio Vargas (FGV), e Carolina Haber, professora de Direito Penal da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mostrou que, de 2007 a 2010, o número de presos por tráfico aumentou 62% – de 65.494 pessoas para 106.491. Em três anos, o tráfico de entorpecentes ultrapassou o crime de roubo qualificado como tipo penal mais comum nas prisões.

Alguém poderia dizer que mais traficantes presos significa menos drogas nas ruas. Não foi o que ocorreu. “Não se tem indício de que o consumo esteja caindo, que o tráfico esteja diminuindo ou que a polícia esteja funcionando melhor”, diz Abramovay, que até janeiro era o secretário nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), ligado ao governo federal, e foi afastado depois de defender publicamente o fim da prisão para pequenos traficantes.

O estudo revela que a maior parte dos presos são usuários ou pequenos traficantes que fazem o transporte da droga e, uma vez presos, são rapidamente substituídos por outros. Um estudo de 2009 da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade de Brasília (UnB) traçou o perfil de quem é preso acusado por tráfico de drogas nas duas cidades: na maioria são pessoas sem antecedentes criminais, que não portavam armas, estavam sozinhas e com pouca quantidade de droga. “São meros intermediários, e não os comandantes do crime organizado”, diz o juiz Walter Nunes, membro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). “Quando focamos a atuação nos usuários e pequenos traficantes, não estamos combatendo com eficácia esse tipo de crime.”

A lei brasileira reconhece que existe diferença entre usuários e traficantes de drogas, mas não dá critérios objetivos para diferenciá-los. Diz que o policial deve se ater “à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente”. Torna-se uma questão de interpretação do policial, que pode ou não ser confirmada posteriormente pelo juiz do caso. “A falta de regras claras estimula a corrupção do policial”, diz Salo de Carvalho, professor de ciências penais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Numa noite de fevereiro de 2010, Flávio (nome fictício) estava parado no balcão do bar de uma casa noturna de São Paulo quando foi abordado por policiais. Em seus bolsos foram encontrados quatro papelotes de cocaína (cerca de 3 gramas da droga) e R$ 150. A quantidade de dinheiro, a droga pronta para a venda e o local propício a essa atividade levaram os policiais à conclusão de que Flávio era um traficante. Universitário de 23 anos, estagiário de uma multinacional e sem antecedentes criminais, ele não passava de um usuário. Em vez de receber tratamento para o vício, foi mandado para a prisão, onde passou quatro meses e só foi solto porque sua família tinha condições para contratar um advogado que provasse que Flávio nunca vendera drogas. “É um caso recorrente causado pela falta de critérios para fazer a distinção”, diz Augusto Arruda Botelho, advogado de Flávio, que diz já ter defendido um homem de 30 anos que passou 40 dias preso ao ser flagrado com 10 gramas de maconha e 3 gramas de haxixe.

Situação pior vive quem é pobre. “O principal critério para alguém ser condenado é a situação econômica do réu”, afirma o defensor público Bruno Shimizu. Ele diz que o primeiro filtro – a abordagem policial – depende dos estereótipos sociais. “Pobre é desfavorecido. É tratado com preconceito pelos policiais e tem menos condições de contar com um bom advogado.

Países europeus estabelecem critérios objetivos para diferenciar usuário e traficante. Cabe ao policial aplicar a lei, e não interpretá-la. Na Holanda, quem tem até 5 gramas de maconha é considerado usuário e terá encaminhamento na esfera médica, não criminal. Em alguns Estados da Alemanha, o limite é 30 gramas de maconha, 5 gramas de cocaína e 2 gramas de heroína. Portugal estabelece limites maiores, por considerar que o usuário pode ter consigo drogas para consumir em dez dias. A Espanha criou uma tabela com quantidades que determinam se alguém é usuário, pequeno, médio ou grande traficante. “Nossa lei precisa de critérios mais rígidos”, diz o advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira.

No Senado, tramita um projeto de lei que prevê detenção, de seis meses a um ano, do usuário de drogas. Também abre a possibilidade para o juiz substituir a pena por tratamento especializado, que deixaria de ser voluntário. O senador Demóstenes Torres (DEM), autor da ideia, afirma: “O projeto é uma resposta à fracassada despenalização do uso de entorpecentes. Familiares, educadores e o Poder Judiciário ficam de mãos atadas para internar o usuário. O projeto repara esse equívoco”. A ideia esbarra na falta de infraestrutura do Sistema Público de Saúde (SUS) em oferecer tratamento gratuito. Sem essa possibilidade, o usuário corre o risco de ter de cumprir a pena.

A hipótese de manter encarceradas pessoas que não são criminosas contrasta com a superlotação no sistema prisional brasileiro. Em dezembro do ano passado, o número de presos era 66% maior que a quantidade de vagas. Segundo uma estimativa do Ministério da Justiça, cada preso custa, por mês, R$ 1.800 no sistema carcerário estadual e R$ 3.312 no sistema federal. “Também há o risco de que, quando um pequeno criminoso é solto, sai com conhecimento do crime muito superior ao que tinha – se é que tinha algum”, diz Mariz de Oliveira. Além de ineficiente, não é bom negócio manter consumidores de drogas na cadeia.

Artigo: Demóstenes no site Congresso em Foco

O governo apostou que não resistiriam ao feriadão da Semana Santa os efeitos das declarações de seu líder na Câmara dos Deputados, Paulo Teixeira, defendendo o plantio e o uso de drogas. A ideia oficial era impedir os debates acerca da origem e da sede do Comitê Pró-Maconha. Mas o Brasil, assombrado com o tráfico e seus efeitos, não esqueceu. Apesar dos discursos da campanha e da desfaçatez pós-posse, acabaram-se as dúvidas de que a gênese e o celeiro dessas aleivosias são vizinhas do gabinete presidencial.




Se forem contados os contrários e os favoráveis, a bancada da erva é majoritária entre os próximos da presidente Dilma Rousseff, resultado inversamente proporcional à voz das ruas, que ecoam o drama dos viciados e seus familiares. O sofrimento das vítimas do uso e do tráfico de drogas não conta para os defensores da liberação de drogas. Teixeira, que agora diz não ser bem assim, aventou até a montagem de cooperativas de cultivadores da erva. Ficou implícito que parte das verbas da agricultura familiar iria para as lavouras de cannabis sativa.



O festival de absurdos se amplia por ter estrelas detentoras de altos cargos, como Teixeira e o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, além de políticos do nível de Fernando Henrique Cardoso. O alheamento dessas personalidades às consequências do uso de drogas é surpreendente. O eixo de seus argumentos é que a política atual não funciona, fracassou etc. Que política fracassou? A que eles próprios implantaram. Mas o fiasco de suas atuações não pode ser avalista de uma hecatombe. Se, em vez de investirem no tratamento dos viciados e no cerco aos traficantes, a maioria da equipe presidencial e astros da política querem liberar drogas, dias piores virão.


A Fumaça do bom direito ou da maconha?

Bradam que a repressão não funciona. Que repressão? As drogas entram, circulam e são consumidas sem que as autoridades ajam de forma alguma. Repressão zero. Quem usa não pode ser preso, quem trafica raramente vai para a cadeia. A presidente se cala, como se continuasse a ser secretária do governo gaúcho. Não é com ela combater ou liberar droga, o país que ela dirige não tem problema algum com entorpecente, não há desfile de zumbis do crack, nenhum lar foi destruído pela cocaína, o líder de seu partido não participa de convescote de maconheiros. Não consegue nem unificar o discurso a cada tragédia.
Tragédia das drogas: hoje demite um secretário por defender liberação, amanhã o líder no Parlamento está no canal dos viciados oferecendo-lhes soluções legislativas.

Tragédia do bullying: hoje seu ministro da Justiça inicia campanha para recolher cápsulas já disparadas, amanhã sua bancada no Senado defende plebiscito ilegal e nunca se lembram de investir na causa, o acompanhamento individual dos alunos, nos âmbitos psicológico e social.
Tragédia da estrutura: hoje o presidente da Fifa diz que o Brasil vai descumprir os itens que lhe deram a Copa de 2014, amanhã o governo destina bilhões para fazer uma linha férrea que transportará aditivos e nada de prioridades.
Enfim, o governo parece sob efeito de uma substância letal ao desenvolvimento, a zorra administrativa. Quando se imagina que há luz no fim do túnel, é o líder da sigla com a turma do cigarro maldito ou o farol da ferrovia Campinas-RJ. É a nova gestão mostrando sua cara. E ela está com os olhos parados e o cheiro característico de quem acaba de consentir, por w.o., a balbúrdia institucionalizada.
Aguarda-se que a presidente responda ao País se seu mandato vai ser marcado por plantio e cooperativa de drogas ou pelo combate ao uso e tráfico delas. Se é mais importante a fumaça do bom direito ou a da maconha. E se a Dilma presidente é a da campanha eleitoral, uma fera contra o crime, ou a omissa do início de um governo que se recusa a começar.
* Procurador de Justiça e senador (DEM -GO).

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Demóstenes na coluna Direito e Justiça, em O Popular

Coluna Língua Portuguesa - por Sinésio Dioliveira

Mordida na língua

De baixo e debaixo

A Folha de S. Paulo, na edição do dia 19/4, exibiu matéria sobre divulgação da Standard & Poor´s – agência mundial de avaliação do risco de papéis de dívida – em relação à perspectiva negativa de os EUA no futuro não poderem pagar suas dívidas federal e pública, respectivamente R$ 1,6 bilhão e R$ 14,2 bilhões. Na mesma edição, foi publicado um artigo de Vinicius Torres Freire – A crise sai debaixo do tapete –, pertinente ao assunto da matéria acima mencionada.

Pois bem. Sobre a palavra sublinhada no título do artigo, vale observar que ela está grafada incorretamente. Entre “de baixo” (preposição + adjetivo) e “debaixo” (advérbio de lugar), devemos nos atentar ao fato de que a primeira grafia está ligada à ideia de “lugar de onde”, a segunda à ideia de “lugar onde”.

Se nos valermos do verbo do título, no caso “sair”, e perguntarmos “a crise saiu de onde?”, perceberemos que a grafia correta é “de baixo”. Isso explicita a ideia de “lugar de onde”.

Pela frase “Debaixo da terra é o lugar onde vivem as minhocas”, perceberemos que “debaixo” é grafia apropriada. Tal frase em outra construção seria: As minhocas vivem debaixo da terra. Neste caso, a palavra em questão é seguida da preposição “de”, que pode se fundir com os artigos o e a, formando do e da.

Exemplos

“Amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves...”

O menino levou o livro debaixo do (de+o) braço.

Debaixo da (de+o) mesa, estava a menina.

Dica cultural do Dia: Noel Rosa

Demóstenes no Jornal de Brasília

Demóstenes na coluna de Dora Kramer

Demóstenes no jornal O Popular



Artigo: Demóstenes no Blog do Noblat



O paraíso da impunidade

Antón Troitiño Arranz é notícia na Europa por cumprir um roteiro escrito no Brasil. Integrante do Comando Madri, ala radical do grupo separatista espanhol ETA, foi condenado a mais de 2.200 anos de cadeia por matar 12 guardas. Há pouco tempo, a Justiça espanhola teve seus 15 minutos de brasileira e soltou o terrorista. Quando tentou prendê-lo novamente, já havia fugido.

Durante a Páscoa, Troitiño era procurado sobretudo na França, mas seus comparsas aventavam a possibilidade de ele buscar destinos com melhores proveitos para apenados. Adivinhe o país preferencial na América do Sul, além da Venezuela...

Seu modelo de gente é Cesare Battisti e o copia nos mínimos detalhes. Battisti também cometeu atrocidades, foi condenado a prisão perpétua e fugiu de seu país, a Itália, inicialmente para a França. Depois, analisou as pátrias da frouxidão penal e não precisa dizer para onde viajou.

Aqui, foi transformado em herói, tão venerado no Palácio do Planalto que sua permanência no Brasil foi o derradeiro ato do governo passado. O STF vacilou e Lula não pensou duas vezes: companheiro é companheiro. E assim Battisti ficou mais próximo da liberdade e a família das vítimas, mais distantes da Justiça.

Ainda se reveste de mistério o fascínio de determinados ocupantes de cargos públicos pela marginalidade. A proteção do estado ao autor de crimes sexuais e quatro assassinatos chamou a atenção de condenados no mundo inteiro. O paraíso tropical atrai bandidos pelo motivo que a Espanha soltou Troitiño, a frouxidão penal.

Nos dois lados do oceano, o tal garantismo converte a sociedade em refém de todas as espécies de criminosos. A população define isso como “a polícia prende e a justiça solta”. Mais precisamente, a lei solta. E operadores do direito, também.

A novela Battisti mostrou que a amizade entre facções terroristas de esquerda europeias e seus comparsas no poder no Brasil vale mais do que a legislação local e tratados internacionais.

A folga almejada por Troitiño e já alcançada por Battisti é a tônica para criminosos comuns brasileiros. Ela fomenta a violência e rouba a esperança da população. Homicida sai da cadeia antes de os parentes do morto tirarem o luto.

Troitiño pode estar escondido com um dos advogados na França, apenas aguardando a chance de despistar as autoridades e chegar a tempo de se hospedar com Battisti.

Ainda resta esperança. Para que bandidos externos e locais parem de rebaixar nossa República a reino da impunidade, um dos primeiros passos é devolver Battisti aos tribunais italianos.

Ficará mais fácil, inclusive, de Troitiño acertar seus séculos de cadeia com a Justiça espanhola.

Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM/GO)

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Poder público poderá abrir processo em caso de violência doméstica


A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou proposta que acaba com a suspensão do processo em caso de violência doméstica. O senador Demóstenes Torres votou favoravelmente a proposta, que ainda estipulou que a abertura de processo contra acusados de agressões domésticas possam ocorrer sem a representação da vítima, podendo se realizada diretamente pelo poder público.

Relatório da CPI do Apagão Aéreo previa incapacidade dos aeroportos


Um estudo apresentado em audiência pública da Comissão de Serviços de Infraestrutura apontou que dos 20 maiores aeroportos brasileiros, 14 funcionaram acima do limite em 2010, e mesmo se as obras planejadas pela Infraero visando à Copa de 2014 e às Olimpíadas de 2016 forem concluídas, não atenderão ao aumento previsto no volume de passageiros em 13 aeroportos. Entre 2003 e 2010, o movimento saltou de 71 milhões de passageiros por ano para 154 milhões, um crescimento de 117% em oito anos. Senadores lembraram que o relatório da CPI do Apagão Aéreo, feito pelo senador Demóstenes Torres, já apontava o caos no setor e “foi jogado no lixo pela maioria governista”.

Demóstenes na coluna Fio Direto, no Diário da Manhã

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Demóstenes no Correio Braziliense e no Estado de Minas


Artigo: Demóstenes no site Congresso em Foco


Brasil entre a Suíça e a Jamaica

Os motivos por trás do massacre das crianças no Rio de Janeiro ainda são discutidos. E em parte porque não há lógica capaz de traduzir ações de um desequilibrado, ainda que antecipe em vídeo suas atrocidades. Como continuam a existir mais interrogações do que respostas, tendem a aflorar teses motivadas por emoções e, com elas, tentativas desprezíveis de aproveitar a comoção para emplacar interesses espetaculosos. Fazem parte delas as declarações do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, atribuindo a violência no país à venda legal de armas. E a adesão subserviente de parlamentares, igualmente.

A manobra para realizar um plebiscito sobre a venda de armas no Brasil é uma delas. A matéria foi alvo de referendo em 2005, no qual 64% da população votou favorável à manutenção da venda, com rigorosa avaliação do comprador. O argumento para simplesmente ignorar a decisão anterior e partir para novo questionamento popular é, no mínimo, curioso: “A população foi induzida ao erro”. A retórica é tão pueril que é facilmente encontrada no jardim da infância: “A vitória só vale se for na melhor de três” ou “Quando eu ganhar, a gente para de disputar”.Além de imberbe, a proposta, caso prospere, abre perigoso precedente. O referendo de 2005 foi realizado sob regras normais, como tempo igual na televisão para ambos os lados apresentarem suas ideias. Se ele não tiver validade assegurada, o que garante a lisura das demais disputas nas urnas? Afinal, o cidadão também pode ter sido induzido ao erro ao escolher um candidato e não outro. Parece tese conspiratória, mas é apenas desfaçatez.

A lorota de que o fim do comércio de armas vai acabar com a violência não passa pelo rigor do simples raciocínio lógico, que dirá das implicações legais da matéria. Como o empresariado internacional vai confiar seus investimentos no Brasil com tamanha insegurança jurídica? Quem garante que o comissariado do governo não vai propor um plebiscito para nacionalizar empresas estrangeiras? Parece absurdo, mas nos dias de comoção os absurdos convencem até as melhores cabeças.

Na maré de índices que acompanha o clamor, dá-se luz aos das ONGs, mas vejam-se uns outros confiáveis. Dados da Diretoria de Fiscalização de Produtos controlados do Exército mostram que, em cinco anos, houve aumento de 81,2% na venda legal de armas em todo o país. De 2005 a março deste ano, 635.251 unidades foram comercializadas. Mesmo com o aumento substancial de armas vendidas, levantamento realizado pelo Ministério da Justiça em parceria com a ONG Viva Rio – os dois maiores patrocinadores do desarmamento –, divulgado em dezembro do ano passado, apresentou queda de 8% na média anual de mortos por armas de fogo entre 2004 e 2010.

Se a violência cai em algum item, nenhum mérito oficial, porque o governo tenta escapar por diversas brechas para justificar sua inoperância nas fronteiras e a leniência com que trata os criminosos. Mas suas desculpas não resistem sequer a análises simples. O estado de São Paulo tem 22% da população brasileira e conta com 40% dos presos do país. O aumento da população carcerária está diretamente ligado à redução da criminalidade – o estado tem o menor índice de homicídios por grupo de 100 mil habitantes do Brasil: 10,47. O que prova o óbvio: o principal culpado pelos crimes são os criminosos. O indivíduo que quer roubar vai roubar, seja com revólver, faca ou até com os punhos.

A simples proibição da venda de armas não acaba com a criminalidade – e a história tem mostrado isso. A Jamaica proibiu a compra e a posse de armas por civis em 1974 e tem 34 homicídios por grupo de 100 mil habitantes. Já na Suíça não há restrições sobre armas e todo reservista guarda em casa o armamento recebido pelo exército. O país conta com apenas um homicídio para cada 100 mil habitantes. Um é pobre, outro é rico, mas são experiências.

O que separa a Suíça da Jamaica e do Brasil não é simplesmente a venda irrestrita de armas ou não, mas a consciência do Estado em relação a sua responsabilidade com a segurança pública. Apesar da vocação de algumas nações para constantes consultas populares, que não é o caso do Brasil, elas já resolveram pendências que por aqui ainda estão no pré-primário. E uma delas é querer acabar com o crime à base de afagos e com os gargalos à base de discursos.

Demóstenes é Procurador de Justiça e senador (DEM -GO).

Artigo: Demóstenes no Blog do Noblat


Aécio e Lula

Alguns a serviço do governo estão praticando seu esporte predileto, tentar transformar a oposição em culpada por qualquer coisa. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou seus oito anos de mandato bebendo e dirigindo o País e ninguém seu aliado achou que fosse inconveniente.


De fato, além de ser um péssimo exemplo para a juventude por causa do malefício do álcool, não consta que o então mandatário tenha prejudicado sua atuação no dia-a-dia por causa da caninha. Agora, jogam sobre o senador Aécio Neves um problema que está do lado de lá.

Aécio foi parado por uma blitz no Rio de Janeiro, no último fim de semana, e estava com a carteira de habilitação vencida. Teve a decência de entregar a CNH sem se valer da carteirada como é praticamente usual com o grupo que, para cada oportunidade, saca o cartão corporativo ou o crachá do Planalto.

Ao contrário, o senador chamou um motorista de táxi, que levou o carro até sua residência na própria capital carioca. Foi um erro, ficou ruim como exemplo para a juventude, mas longe da grita dos que estão acostumados à bebedeira federal.

Os agentes pediram a Aécio que fizesse o teste do bafômetro. Como milhares de brasileiros, ele usou seu direito constitucional de se recusar, até com um argumento menos legalista e mais prático. Não iria dirigir dali em diante, então, não precisaria provar que estava em condição de guiar o veículo. Para o trecho em que havia dirigido, nenhuma ocorrência.

Para o particular, existe a prerrogativa de não fazer prova contra si; para o político, a condenação acompanha o cargo, é culpado até que absolvição por magistrado diga o contrário.

A mesma cobrança nunca foi feita pela companheirada no caso do ex-presidente ou de qualquer outro político. Talvez porque 99% deles tenham motoristas ou devido, quem sabe, ao fato de Aécio ser de fato diferente. Além de ele mesmo guiar, houve outro componente: em nenhum momento tentou se safar da ocorrência.

Não ligou para o amigo Fulano na força policial ou o Beltrano no departamento de trânsito, enfim, essas artimanhas tão queridas à companheirada. Seu único chamado foi ao taxista.

Enfrentou seu erro, foi punido por ele e não se esquivou sequer da repercussão. Se fosse alguém do governo, seria protegido pela camarilha até aparecer em público culpando a oposição.

Onde está o escândalo? Se for no uso do etilômetro, o próprio Superior Tribunal de Justiça tem isentado inclusive aqueles que provocam acidentes. Aécio não fez vítimas, não passou sequer susto em alguém.

Mas o governo, via aliados principalmente na internet, quer comparar o caso com a defesa que o líder do PT na Câmara dos Deputados, Paulo Teixeira, fez do plantio e do consumo de maconha.

Não há qualquer relação. Aécio se recusou a produzir prova contra si, o líder governista quer produzir droga para o uso e o tráfico.

Tenta-se, por meio dos entrincheirados na frente de batalha virtual, fazer com que a CNH vencida de um integrante da oposição ofusque as trapalhadas do governo. Mas é impossível encobrir, por exemplo, que Lula gastou 70% a mais em publicidade, retirando dinheiro de áreas sensíveis.

Impossível omitir que a atuação da Polícia Federal nas fronteiras está prejudicada porque foram retirados 40% de suas verbas. No entender dos líderes de agentes e escrivães da PF, o trabalho está comprometido, inclusive para combater a entrada de armas e drogas.

Enquanto se tenta esconder as malfeitorias oficiais no biombo da carteira de Aécio, a política do “bebe, mas faz” continua prevalecendo.

Deve ser essa a desculpa, de estar bêbado durante a declaração, para o líder que defende a criação de cooperativa de produtores de maconha, certamente para receber recursos dos programas de agricultura familiar.

Os que atacam Aécio serão regiamente pagos, inclusive para evitar que se relembrem os dias de tensão quando o ex-presidente movido a etanol tentou expulsar do Brasil o correspondente estrangeiro que dele falou o óbvio.

Aécio errou e foi punido. Faltam os demais.
Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM/GO)



 

Demóstenes na coluna Café da Manhã, no Diário da Manhã

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A Lei de Acesso à Informação é aprovada em reunião conjunta


A Lei de Acesso à Informação foi aprovada ontem, em reunião conjunta das comissões de Ciência e Tecnologia e Direitos Humanos. A proposta, que contou com relatoria do senador Demóstenes Torres na Comissão de Constituição e Justiça, foi aprovada e cria três categorias para a segurança das informações: ultrassecreta, secreta e reservada. Tal enquadramento leva em conta seu teor e sua imprescindibilidade à segurança da sociedade e do poder público, sendo proibida sua publicação pelos respectivos prazos de 25, 15 e 5 anos.

Demóstenes no jornal CNN

Demóstenes na coluna Painel, no jornal O Estado de Goiás

domingo, 17 de abril de 2011

Demóstenes na coluna Bastidores, no Jornal Opção

Demóstenes na coluna Xeque-Mate, no jornal O Hoje

Artigo: Demóstenes no jornal Tribuna do Planalto


O ferrorama governamental

O mal não está no fato de cometer erros, mas na forma como o estadista lida com eles. O governo federal mais uma vez posou de dono do Senado e conseguiu outra aprovação absurda: o financiamento de R$ 20 bilhões para a construção de um trem-bala ligando Campinas (SP) ao Rio de Janeiro. Um luxo digno do país de poesia das campanhas publicitárias – um desperdício imensurável para o Brasil real. Para dar ideia da falta de estabelecer prioridades, com esse dinheiro se implanta a escola em tempo integral no País inteiro.

Ninguém nega que sejam necessários investimentos pesados na infraestrutura. O que está em questão vai além. Prioridades não são determinadas pelo efeito estético ou midiático da obra, mas pelo choque que o benefício vai proporcionar na qualidade de vida da população. O valor destinado à construção do ferrorama oficial mostra apenas que a presidente Dilma Rousseff tem passado mais tempo percorrendo o globo do que conhecendo o Brasil por trás das rodas de capoeira e do maracatu das cerimônias governamentais.

A suntuosidade da obra é uma afronta ao descaso dispensado ao setor nos últimos anos. Os bilhões que o governo sonha para o trem-bala (sem garantias de pagamento) seriam mais do que o suficiente para construir duas usinas de Belo Monte – outro presente oficial do governo para investidores companheiros. É um volume superior aos investidos pelo poder público e pela iniciativa privada em ferrovias desde 1999.

As comparações são suficientes para comprovar o erro monumental que é construir o trem-bala, mas, ainda que não fossem, basta acrescentar que o principal gargalo do transporte brasileiro não está entre São Paulo e o Rio. A cada real investido no nababesco, perde o produtor rural, que vê parte do lucro ficar pelas estradas enquanto não se concluem sequer os trechos mais antigos da Ferrovia Norte-Sul, esta sim capaz de distribuir riquezas. O superávit da balança comercial presenteado pela agropecuária ajuda o comissariado a recuperar a política ditatorial do Brasil grande e os arrecadadores não se lembram disso quando observam o número de acidentes e os estragos nas BRs.

Trem-bala toma as raias de uma piada de mau gosto quando, na mesma semana em que a mão do Executivo novamente extrapola seus limites, a imprensa divulga que nove aeroportos não ficarão prontos para a Copa do Mundo de 2014. A balbúrdia anunciada provoca o protocolar sorriso amarelo dos burocratas de Brasília e também a decepção de turistas do mundo todo que, em vez de conhecer as maravilhas nacionais, terão acesso sobretudo à maravilhosa vista das filas nos saguões dos nossos chiqueiroportos.

Não são apenas erros de prioridades. Se o governo mostra que não tem palavra ao descumprir os compromissos assumidos com a Fifa em relação à Copa do Mundo, comprova que não teme passar por cima de qualquer obstáculo para ter seus desejos atendidos. A medida provisória com os recursos extraorçamentários só poderia ser editada para casos de calamidade pública ou guerras. Qual calamidade afeta o Brasil, além da desfaçatez? Qual guerra será encadeada ou solucionada pela construção do trem-bala? Só se for a de nervos.

Dilma está cometendo um erro administrativo do tamanho da obra faraônica e o pior: dá o tom dos investimentos públicos nos próximos 20 anos. Tudo indica que a vontade imperial vale mais do que as necessidades do País.

Demóstenes é procurador geral de Justiça e Senador

Demóstenes na revista IstoÉ