Poema de Cida Almeida no livro "Flor da Pedra", lançado em Goiânia no fim do ano passado.
O poema inacabado
Ao sopé da montanha da minha janela correm dois rios:
o rio-fundura e o rio-clareza.
Rios de estranhas correntezas.
O rio-clareza corre afoito
despenca cachoeiras de dias clarinhos, clarinhos
e vai indo, menininho...
O rio-fundura parece parado
enganosa aparência de lago
corre lento. Serpente dormindo
na rodilha fria do tempo
nos precipícios do próprio leito
amante das lamas fundas e dos musgos.
A montanha da minha janela
que escalo íngreme e esgueira
move-se na profecia das águas
do meu rio-clareza. Menininho
do meu rio-fundura.
Barrento, lento.
Ardilosa lama.
Meu rio-clareza tem ânsias de horizontes
atravessa noites pelas cascatas das manhãs
perene nos seixos que carrega na corrente.
Meu rio-fundura, o rio das lamas fundas,
traz a alma encarcerada dos batismos
traz o barro virgem da primeira escultura
traz escalavrada a pedra
traz tudo que viaja no sangue e na pele
e corre indiferente por dentro dos segredos
das sete fendas da sepultura.
Nas corredeiras do meu coração
rio-clareza e rio-fundura vertem
das águas grandes da minha sede
e marulham nas cascatas
da minha janela no topo da montanha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário