quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Artigo: Demóstenes no Blog do Noblat


Ainda está em tempo de reagir

O jornalista Juan Arias, correspondente do “El País”, perguntou em artigo: “Será que os brasileiros não sabem reagir à hipocrisia e à falta de ética de muitos dos que os governam?”

Sabem, Juan, mas o mensalão lulista criou um parâmetro: se aquele volume de irregularidades não redundou em cadeia, condenação ou passeatas de milhões de pessoas ao redor do país, estaria tudo liberado do lado de baixo do Equador.

Nos últimos meses, então, o governo da presidente Dilma Rousseff protagonizou mais escândalos do que a soma dos que levaram Vargas ao suicídio e Jânio à renúncia.

Nem é o caso de se comparar a metástase, em respeito às vítimas da péssima saúde preventiva e curativa, mas a corrupção se disseminou. Cada enxadada do TCU é uma isca, onde a imprensa cava encontra baú de ossos, em qualquer armário há partes do cadáver da retidão.

Ao tornar comuns absurdos que deveriam resultar em algema e grade, Dilma faz de conta que não está acontecendo nada e ao mesmo tempo está resolvendo tudo, como se demissão fosse panaceia.

Além de afastar o ajudante, é necessário investigar, denunciar, punir administrativa e penalmente, além de reaver bens e valores amealhados. Afastar é uma sanção tão leve que cheira a prêmio, pois ninguém pode se sentir ofendido por deixar de integrar equipe tão enxovalhada.

Em vez da massa, como quer o correspondente espanhol, ou das autoridades, foi o jornalismo, em seu papel de “olhos da nação”, o farol a clarear a diversidade de órgãos tocados pela mão-leve. Daí o ódio do anterior e da atual aos veículos de comunicação.

O Congresso, encolhido sobre os joelhos, é o único Legislativo do mundo cujo repertório se resume a uma palavra, “amém”. O Judiciário se submete a caprichos que deveriam envergonhá-lo, vide alforria ao assassino Cesare Battisti.

Restou à imprensa, no outro papel, o de quarto poder, mostrar as vísceras carcomidas. Senado e Câmara voltam do recesso sem que as manchetes lhes tenham oferecido sequer um dia de folga.

Abrem o jornal, eis a diretoria aos furtos. Ligam a TV, olhem o ministério em apuros. Folheiam a revista, agência espalhando pus pelas páginas. O ritmo é ainda mais lépido em rádios, portais, mídias sociais.

Apesar de tanta lama divulgada, o público, atento, tem uma boa notícia, inclusive para Arias: ainda está em tempo de reagir.

Aliás, é a hora apropriada, porque a responsabilização bate à porta do principal gabinete do Palácio do Planalto. Já o rodeou pela Esplanada, foi aos andares vizinhos, circulou nas salas ao lado e, em alguns depoimentos, alcança a cadeira número 1.

O que ela não quer ver como presidente, deveria ter observado e combatido como chefe da Casa Civil, mãe do PAC, coordenadora das dezenas de ministérios.

Deve-se fustigar cada acusado, rever contratos, anular aditivos, retomar as somas desviadas, esmiuçar patrimônios para saber se o que está a engordá-los é abscesso.

Mas esses verbos têm um rosto a encimar o punho que nomeou os malfeitores. O vento, Arias, começa como sopro de poucos, forma redemoinho com a participação de vários e, quando o Executivo tenta virar a cara, a tempestade já lhe roçou as faces.

Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM/GO)

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