sábado, 8 de outubro de 2011
Diário da ONU: Demóstenes no Blog do Noblat
Rio +20 e o fiasco iminente
O centro do debate entre a diplomacia que frequenta a ONU é algo em que meio mundo é PhD, a outra metade tem doutorado e poucos entendem de verdade.Discutiu-se a preservação da Natureza, aquilo que em décadas passadas se chamava ecologia.
Acostumado com o blablablá sem futuro de algumas ONGs governamentais, poderia supor que a conversa nos comitês da Assembleia Geral da ONU tivesse a mesma linguagem. Ao contrário.
Em 2012, os países à unanimidade voltarão ao Rio de Janeiro para colocar preto no branco, quem fez e quem deixou de cumprir a Agenda 21, um dos principais resultados da Eco 92 ou Rio 92.
A percepção atual elogia o Brasil e abriga notícias ruins de China e EUA, que não conseguem casar desenvolvimento com sustentabilidade. Para o próximo ano, espera-se arrancar de ambos comprometimento jurídico vinculante com o meio ambiente.
Arrancar é o termo mais próximo do que se pretende, pois com mesuras e finezas os Estados Unidos não imprimem a assinatura em nada que não seja carta de intenções e nisso concordam republicanos e democratas. A China, que continua sendo uma ditadura na política e uma predadora na economia, também escapa de tudo em que veja verde.
Na segunda comissão bem como na Assembléia Geral, em que se discute o tema, a preservação ambiental recebe o tratamento que mais interessa aos líderes mundiais, o de elemento econômico e financeiro.
Para convencer um chefe de estado, o primeiro argumento é: o que o seu país vai ganhar com isso. A resposta é quase a mesma: clientes para seus empresários, futuro para sua gente. Estão precisando.
A Europa quase não tem mais árvores, os EUA devastaram o que conseguiram e os olhos se arregalam para a Amazônia. Aqui, na ONU, ser um “povo da floresta” rende mais que vender um Brasil em fase de industrialização.
Os debatedores observam os dados, conferem a quantidade de commodities exportadas e é desnecessário saber inglês para entender o significado daquele sorriso: é a tradução dos mapas positivos do Brasil.
Os observadores, representando todas as 193 nações, estão satisfeitos com o equilíbrio conseguido pelo Brasil. Falam da agropecuária, que produz mais em menos terreno e com muito menor dano. Perguntam sobre o Cerrado, digo que está no fim, mas eles rebatem afirmando que o ritmo da devastação se desacelerou nos últimos anos.
Mantêm esse otimismo mesmo com o fracasso das recentes conferências mundiais sobre o meio ambiente, como o Conselho Climático de Copenhague de 2009.
A meta é ter, em 2012, o nível da ECO 92 e não os bate-bocas de comadres, os espetáculos chinfrins e uma foto oficial coroando o nada. Entretenimento em discussão ambiental é coisa de ONG querendo justificar o gasto de verba pública.
Evento sério, que vai dar resultado, precisa de assinatura dos países e modo de cobrar o comprometimento. Caso algum não realize as metas no prazo, sofrerá sanções das Nações Unidas.
Sujar o planeta não pode continuar sendo fator de equilíbrio de balança comercial ou de competitividade dos poluidores. Se for, o Rio + 20 será um fracasso.
Demóstenes Torres é procurador de Justiça e Senador (DEM/GO), escreve de Nova York onde participa, como observador Parlamentar pelo Senado Federal, dos trabalhos da 66ª Assembleia-Geral das Nações Unidas
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