Liberdade poética
Vou me conceder a “liberdade” de meter o bedelho em algo recomendado pelo poeta romano Horácio, autor de uma expressão latina muito conhecida atualmente, em decorrência do filme Sociedade dos Poetas Mortos: carpe diem: colha o dia, viva o momento. (Há muitos homens zuretas por aí abrindo mão de colher o dia maduro em seu quintal para correr atrás de um dia que eles nem sabem se estarão vivos até lá.)
Horácio aconselha o escriba a escolher um assunto à altura do que seus ombros suportam. Ou seja, escolher um assunto que o escriba realmente domine. Lógico que o conteúdo vale mais que a forma, mas não se pode desconhecer a importância da forma. Afinal, ela é responsável pela materialização fonética da idéia. Sem a forma, a ideia existiria apenas no mundo abstrato.
Há muitos escrevinhadores de poesia mordendo feio a língua e justificando os seus erros gramaticais e ortográficos na famosa frase: “A liberdade poética permite.” Permite sim, mas desde que o desrespeito à norma atenda a algum objetivo estético. Neste caso, ao contrário daquele, o “erro” não ocorre por desconhecimento das normas gramaticais.
O texto da imagem acima é a reprodução da letra do Raul Seixas. A música Gita, como mostra a abreviatura R.S e P.C, é de autoria de Raul e Paulo Coelho. Há três incorreções ortográficas no texto da música:
1ª – Falta um acento grave na expressão “às vezes”;
2ª – vezes grafada com “s” e com acento,
3ª – em vez “porque”, o certo seria por que, pois há uma interrogação na frase.
Certa vez numa conversa com amigos sobre “liberdade poética”, mencionei os erros do texto da imagem, e um deles me disse que eu preciso me tornar um “maluco beleza” e reconhecer que a liberdade poética permite os erros.
Não tive como explicar a esse amigo que o erro em questão é simplesmente desconhecimento da norma culta da língua e não intenção estética alguma.
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