segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Coluna Cinema - por João Paulo Teixeira



“Cavalheiros, não podem brigar aqui! Esta é a sala de guerra”

Dr. Fantástico ou como aprendi a parar de me preocupar e amar a bomba é uma  extraordinária sátira política da turbulência ideológica durante a guerra fria. Dirigida por Stanley Kubrick e lançado em 1964, o filme tem ótimo roteiro (praticamente todas as falas tem duplo sentido) e as mais grotescas personagens combinadas para brincar, o tempo inteiro, com o medo da aniquilação mundial.
Kubrick e o roteirista Terry Southern retiraram a trama de um livro de suspense feito por um militar da Aeronáutica britânica (a obra de Peter Geoge foi publicada como Two Hours to Doom no Reino Unido e Red Alert, nos EUA) e inseriram elementos para transformá-la em um conto de realismo fantástico.
A ação se passa em três pontos diferentes: a sala de guerra, o quartel general e o avião pilotado pelo major texano T.J. “King” Kong, que contém a bomba H. O estopim da história se dá com a crescente agonia do general Jack Ripper (em referência a Jack, o Estripador) para que cesse a interferência dos soviéticos aos “preciosos fluídos corporais da América”. Sua resposta a agressão é disparar armas atômicas contra os comunistas.
Seu ajudante inglês, o capitão Lionel Mandrake (Peter Salles) tenta desesperadamente encontrar o código que impede o bombardeamento que iniciaria a terceira guerra mundial. Diante do paradoxo, o homem mais importante do mundo, o presidente dos E.U.A, Merkin Muffley, (Peter Sellers, novamente) se reúne na sala de guerra do Pentágono e usa o famoso telefone vermelho (mesmo o filme sendo em preto e branco) para pedir que primeiro-ministro soviético derrube os aviões americanos.

O bêbado chefe da superpotência comunista avisa ao colega que seu país possui um mecanismo, a Máquina Apocalíptica, que devolve automaticamente o ataque nuclear. Receoso, Muffley designa que seu assessor direto, Dr. Fantástico, confirme a existência de tal máquina.
Também sob a interpretação de Peter Sellers, Dr. Fantástico é um cientista nazista que, com o fim do III Reich, se torna conselheiro do presidente americano. Dono de um vocabulário técnico-científico e um tique nervoso, Dr. Fantástico contrai involuntariamente o braço e solta uma estrondosa saudação “Zieg Hail” sempre que se reporta o presidente americano.
Do mal sucedido ataque de Jack Ripper, 30 dos 34 aviões regressam a base. Outros três foram abatidos, porém um deles consegue lançar a Bomba H em solo inimigo. O resultado é cowboys cavalgando bombas nucleares e um plano de evacuação surreal que inclui abrigos nas cavernas que comportariam uma população de mulheres dez vezes maior que a de homens.
Dr. Fantástico rendeu a primeira indicação de Kubrick ao Oscar. O filme também recebeu a menção como melhor daquele ano, referência a Petter Sellers pelo papel triplo e roteiro adaptado.


Um comentário:

  1. Amigos, me perdoem por um erro gráfico. A saudação de Dr. Fantástico em alemão deve ser escrita com "S" e "E", ou seja, "Sieg Heil". Um equivalente a "vitória salve". Abraços.

    ResponderExcluir