quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Coluna Poesia

Meus Outros Anos

Gilberto Mendonça Teles

Eu me lembro, eu me lembro, Casimiro,
no meu São João, no meu Goiás, na aurora
da minha vida, eu li o teu suspiro,
li teus versos de amor que leio agora.

E que meu filho lê, e todo mundo
sabe de cor, de coração, de ouvido,
desde que sinta o apelo mais profundo
de tudo que tem força e tem sentido.

Contigo comecei a ver e vi
as coisas mais comuns - o natural:
o rio, a bananeira, a juriti
e a tarde que cismava no quintal.

Contigo descobri a travessia
do tempo na manhã, no amor, no medo,
nos olhares da prima que sabia
a dimensão maior do meu brinquedo.

E até este confuso sentimento,
esta idéia de pátria, que persiste,
veio de teus poemas, no momento
em que tudo era belo e apenas triste

era pensar no exílio e ver no termo
um motivo de doença e de pecado;
triste era imaginar o poeta enfermo,
tossindo os seus silêncios no passado.

Eu me lembro, eu me lembro! e quis de perto
ver o teu rio, teu São João, teu lar;
ler a poesia desse céu aberto
que continuas a escrever no mar.

______________

Choro de chão

Luiz de Aquino

Afora o desaforo das águas,
os rios que infestam
sem festa
o Rio, o Rio que a gente ama
das ruas à cama,
derramo-me de dengos
em seu colo que me prende.

Caem chuvas, cobrem-nos nuvens
densas de cristais que viram água
ou granizo a beijar o granito
dos belos morros por quem morremos
pouco a pouco, ou de súbito.

Transbordam canais, regurgitam bueiros
de rios submersos,
elevam-se os manguezais
a inundar quintais
no Rio inteiro.

Nas ruas e avenidas, não mais
o tráfico nem o trânsito. Águas
retidas de março invadem abril.
Chora o Brasil com tantos rios
a correr, como desafios
de versos em águas reversas.
Tanto fluir, tanto caudal!
Nada emito de mim,
mas vem-me a torrente
persistente, sempre presente
a afluir-me como os rios:
é poesia de dor e de lírica
muito mais que fatídica
de Lílian Maial.

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