Meus Outros Anos
Gilberto Mendonça Teles
Eu me lembro, eu me lembro, Casimiro,
no meu São João, no meu Goiás, na aurora
da minha vida, eu li o teu suspiro,
li teus versos de amor que leio agora.
E que meu filho lê, e todo mundo
sabe de cor, de coração, de ouvido,
desde que sinta o apelo mais profundo
de tudo que tem força e tem sentido.
Contigo comecei a ver e vi
as coisas mais comuns - o natural:
o rio, a bananeira, a juriti
e a tarde que cismava no quintal.
Contigo descobri a travessia
do tempo na manhã, no amor, no medo,
nos olhares da prima que sabia
a dimensão maior do meu brinquedo.
E até este confuso sentimento,
esta idéia de pátria, que persiste,
veio de teus poemas, no momento
em que tudo era belo e apenas triste
era pensar no exílio e ver no termo
um motivo de doença e de pecado;
triste era imaginar o poeta enfermo,
tossindo os seus silêncios no passado.
Eu me lembro, eu me lembro! e quis de perto
ver o teu rio, teu São João, teu lar;
ler a poesia desse céu aberto
que continuas a escrever no mar.
______________
Choro de chão
Luiz de Aquino
Afora o desaforo das águas,
os rios que infestam
sem festa
o Rio, o Rio que a gente ama
das ruas à cama,
derramo-me de dengos
em seu colo que me prende.
Caem chuvas, cobrem-nos nuvens
densas de cristais que viram água
ou granizo a beijar o granito
dos belos morros por quem morremos
pouco a pouco, ou de súbito.
Transbordam canais, regurgitam bueiros
de rios submersos,
elevam-se os manguezais
a inundar quintais
no Rio inteiro.
Nas ruas e avenidas, não mais
o tráfico nem o trânsito. Águas
retidas de março invadem abril.
Chora o Brasil com tantos rios
a correr, como desafios
de versos em águas reversas.
Tanto fluir, tanto caudal!
Nada emito de mim,
mas vem-me a torrente
persistente, sempre presente
a afluir-me como os rios:
é poesia de dor e de lírica
muito mais que fatídica
de Lílian Maial.
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