Acabado o segundo turno das eleições e passado mais um feriadão  voltamos à vida real. É verdade que cabe às oposições juntar os cacos e  melhorar o discurso, mas isso é um processo interno que em nada altera a  vida das pessoas por enquanto.
A agenda política das oposições  deve ser centrada naquilo que é melhor para o Brasil, um país virtuoso e  pleno de defeitos graves. Até a popularidade recorde do presidente Lula  irá importar pouco e deve ficar restrita aos registros  historiográficos.
As expectativas se voltam para o novo governo e a  capacidade política da presidente Dilma Rousseff de imprimir estilo  administrativo próprio. A continuidade foi vitoriosa, agora não há  cabimento para um modelo governar que seja mero apêndice do passado.  Também não tem mais a conversa de herança maldita. Os problemas são  atuais e precisam ser resolvidos. O que se espera para o Congresso  Nacional é o impulso do Palácio do Planalto para que façamos as grandes  reformas estruturais de que o Brasil precisa.
A primeira é a  reforma política. A lei ficha-limpa abriu a porta para que a iniciativa  prospere. Fez um bem danado ao País e se torna imperativo ampliar o  processo de assepsia da atividade pública.
A agenda nacional exige  também a reforma tributária. Há várias propostas em andamento  interessantes e não há melhor momento do que agora para iniciar as  alterações constitucionais tendo em vista que os governadores eleitos  estão com os espíritos desarmados e prontos para o diálogo.
A  economia brasileira vive bom momento, mas pode ter o ciclo de  crescimento rompido se for mantida em vigor essa sistemática tributária  equivocada, que penaliza a produção e premia a burocracia.
Outra  temática fundamental é a reforma da Previdência. Temos de criar novas  regras para quem está entrando no mercado de trabalho. A tendência de  envelhecimento da população é definitiva e como está o sistema  previdenciário é um atestado de falência a médio prazo.
Praticamente  todos os candidatos majoritários nesta campanha propuseram a  instituição da Escola em Tempo Integral como a única alternativa para  que o Brasil tenha educação de qualidade. Então, não há mais obstáculos  políticos para que a iniciativa seja votada no Congresso Nacional e saia  imediatamente do papel.
O governo de continuidade implica em  agilidade dos trâmites administrativos. O que se espera da Era Dilma é o  aproveitamento dessa vantagem estratégica para conferir celeridade às  obras de infraestrutura, sem as quais o Brasil corre o risco de vários  apagões ou de ver a sua capacidade de desenvolvimento limitada a  gargalos históricos, como é o caso da logística de transporte.
Não  podemos desconhecer que as obras da Copa 2014 estão bastante atrasadas.  A inserção qualificada do Brasil no cenário internacional passa  necessariamente pelo chamado desenvolvimento “verde”, ou seja, temos  muito potencial de ser uma superpotência ambiental.
Para tanto não  basta diminuir o desmatamento da Amazônia. Temos de superar o atraso  tecnológico, produzir conhecimento e encontrar soluções para aumentar a  nossa competitividade no mercado global de energia limpa.
Demos um  salto extraordinário na produção de etanol, mas sinceramente a  iniciativa não pode ser restrita a desalmados canaviais. Já fizemos isso  durante o pacto colonial e não deu certo. O Reino Unido, por exemplo,  inaugurou recentemente o maior parque eólico em alto mar do mundo. O  Japão avança na produção de automóveis a bateria e os Estados Unidos  estão fazendo etanol de celulose.
Por fim cabe à oposição fazer a  tutela da moralidade e mostrar os caminhos da boa governança, o que  equivale dizer responsabilidade fiscal.
A função da oposição é não  permitir a livre manifestação da improbidade administrativa e ao mesmo  coibir qualquer tipo de atentado à democracia, a exemplo da liberdade de  imprensa.
Quem dá o tom da viola é o Palácio do Planalto. As  oposições são espécie de moça feia do pagode, mas têm direito à música.  Como disse bem editorial de O Globo da última terça-feira, o melhor  caminho é “delimitar espaços de convivência” entre os dois lados.
Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM-GO)

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