domingo, 22 de maio de 2011

Artigo: Demóstenes no jornal Tribuna do Planalto



Sem forças para enfrentar a violência



Demóstenes Torres

Quando apurava os delitos vindos à CPI da Pedofilia, os índices já prenunciavam o horror, confirmado nas estatísticas de que Goiás é o campeão em denúncias da monstruosidade. Agora, o Fórum Goiano de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes divulga a estimativa de que 3,3 mil deles foram vítimas de violência ou exploração sexual em Goiânia entre janeiro do ano passado e o início deste mês. Os números são assustadores e há o que se aprofundar no problema: 90% dos casos não são atendidos pela rede pública de saúde e 75% escapam ao conhecimento das autoridades.

Os números foram apresentados pelo psicólogo Joseleno Vieira Santos, professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás e coordenador do fórum. Ele lembra que não existem estatísticas exatas acerca do assunto e um dos motivos é a ausência de centralização dos atendimentos. Como a maioria dos casos envolve familiares ou amigos das vítimas, a quantidade informada tende a ser bem inferior ao número real.

No Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, 18 de maio, houve reflexões. Não faltaram eventos de conscientização e debates sobre a melhor forma de identificar os criminosos e preservar as vítimas, restabelecendo o convívio social com o mínimo de traumas. O governo federal aproveitou a data para divulgar o mapa da pedofilia no Brasil. Uma simples leitura deixa pais e autoridades atemorizados. A tristeza é ampliada ao se constatar que as páginas antigas também teriam sido preenchidas com relatos sombrios se já houvessem os mecanismos atuais. Muitas vítimas em tenra idade hoje são adultos que sofrem com problemas mentais e sociais, enquanto seus algozes se refestelam na impunidade.

Nem sempre é possível esperar que as vítimas divulguem seu martírio, porque às vezes são bebês, nenês de colo, crianças de 1 ano, 2 anos, ou ficam tão traumatizadas que lhe roubam a voz. A tarefa sobra para família, amigos, professores, Conselho Tutelar. Um desafio é ensinar as maneiras de identificação do problema e onde procurar ajuda. A outra é convencê-los a entregar à Polícia e à Justiça os autores dos abusos, mesmo que sejam as pessoas mais insuspeitas e relacionadas à família.

Apesar dos avanços, alguns deles advindos da CPI, falta uma política pública efetiva para o combate ao crime sexual, que muitas vezes acontece à luz do dia, envolvendo adolescentes viciados em crack que vendem o corpo para adquirir entorpecente. É preciso prender quem se aproveita do vício e contratar especialistas para auxiliar na trilha de saída das drogas. É uma via de mão dupla, que sem apoio resta intransitável.

Um caminho para vencer a pedofilia é entender que o crime tem várias frentes. Um grande passo legislativo é aprovar a proposta que permite ao policial infiltrar-se na internet para identificar o pedófilo quando ele aborda a vítima na grande rede. A alteração permite prender o bandido antes do pior. É como interceptar o traficante previamente, sem que distribua a droga nas portas das escolas. Agora, não basta simplesmente trancafiar o criminoso, é preciso garantir que ele vá ficar atrás das grades.

Medidas como o retorno do exame criminológico e a adesão da pulseira eletrônica podem garantir que os criminosos permaneçam sob monitoramento. Não se trata de diminuir a liberdade dos reeducandos, mas de aumentar a segurança do cidadão de bem. Principalmente, o cidadão que ainda não tem força nem idade para se defender.

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