A Missão de Demóstenes
Antes de qualquer coisa, as declarações do governador Marconi Perillo na quinta-feira, 28, que estamparam manchetes dos jornais no dia seguinte, foram um claro recado. Marconi defendeu aberta e francamente a manutenção da aliança entre o seu PSDB e o DEM. Recado claríssimo e sem margem para interpretações que não levem ao seguinte ponto: se fosse agora, os tucanos certamente fechariam questão no processo eleitoral em torno da candidatura do democrata Demóstenes Torres. Até pela simples razão que embasa qualquer aliança eleitoral: apoia-se aquele que soma mais chances de conseguir a vitória. Não se forma aliança com os mais fracos, a não ser quando todos são fracos. E esse, definitivamente, não é o caso do senador democrata. Ele é o mais forte dentre todos os possíveis candidatos a prefeito de Goiânia pela base aliada estadual. Então, trocando as palavras, mas respeitando o contexto do que foi dito pelo governador, o recado é este: Demóstenes tem tudo para construir sua candidatura, inclusive o apoio dele, Marconi.
Como assim, construir uma candidatura? Exatamente isso, trata-se da construção da viabilidade política a partir da constatação óbvia do potencial eleitoral. Que Demóstenes é o melhor e mais consistente possível candidato a prefeito de Goiânia no ano que vem pelo conjunto da base palaciana estadual não há dúvida, mas candidaturas não se sustentam no telhado. Elas se fortalecem nos alicerces. E é isso que o senador terá que fazer. O governador deixou à disposição dele toda a argamassa necessária para a construção da candidatura. Resta a Demóstenes, então, coordenar o processo de construção. Que não será fácil, evidentemente.
Candidaturas de base são marcadas pelo forte comprometimento. Essa é uma característica que jamais é ou pode ser alterada. E ninguém se compromete com as bases em nome de terceiros. O máximo que se tem nesse sentido é a indicação. Todo o resto é feito exclusivamente pelo candidato. E é essa a tarefa que cabe ao senador Demóstenes Torres.
Sem compromissos com as bases, candidaturas fortes ou com algum potencial de crescimento se tornam presas fáceis de adversários bem articulados. Tanto interna como, e especialmente, externamente. Os exemplos disso são inúmeros. Pra ficar em apenas um, basta lembrar a trajetória do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles.
O ex-homem forte do BC foi paparicado pela cúpula do PP durante mais de dois anos. No último momento, e salvo engano, num erro de avaliação, acabou optando pela filiação ao PMDB para se candidatar a governador do Estado nas eleições do ano passado. Ele tinha o apoio declarado do maior líder peemedebista, Iris Rezende, mas isso não foi suficiente para fazer dele sequer uma pauta real do processo político em Goiás. Sua candidatura jamais saiu do campo hipotético, virtual, muito distante do dia a dia da política peemedebista. Por quê? Pela falta absoluta de contato e convivência, que constroem o comprometimento, com as bases do PMDB.
Nenhum candidato, por mais forte eleitoralmente que possa ser, chega a algum lugar sem estar intimamente ligado às bases que o sustentam. Vide exemplo do próprio governador Marconi Perillo nas eleições do ano passado. Em todas as pesquisas de opinião, desde um ano antes da eleição, ele apareceu sempre em primeiro lugar. Não se pesquisou o grau de ligação dos candidatos com suas bases, mas é certo que ele era também o candidato que mais se mantinha em contato com elas. Não foi por outra razão que o PP só não se aliou a ele porque a cúpula do Palácio, na época comandada por Alcides Rodrigues, se empenhou particularmente até no trabalho de boca de urna na convenção do partido. E também não foi outro o motivo que levou o DEM majoritariamente a apoiá-lo decididamente. Em ambos os partidos, as bases sentiram em Marconi um candidato compromissado com elas.
Demóstenes vai ter que tentar a fazer algo muito parecido com isso. Hoje, não há qualquer dúvida sobre o grau de compromisso que ele tem com o DEM, mas será que a resposta seria a mesma se essa dúvida fosse em relação ao PSDB ou ao PTB? Certamente que não. Por enquanto, Demóstenes é candidato a prefeito apenas do DEM, e ele precisará ser o candidato da base aliada estadual. Eis o ponto que ele precisa atingir.
Até hoje ainda não se percebe muita movimentação do senador democrata nas bases tucanas e dos demais grandes partidos da aliança estadual. Ele tem carta branca pra agir, mas ainda não encontrou o caminho certo em direção às bases partidárias. Demóstenes não tem muito tempo a perder. Compromissos não nascem num único encontro, com um tapinha nas costas e em uma troca de sorrisos. Isso é feito ao longo do tempo. São necessários vários encontros, muitos tapinhas e sorrisos aos montes. Esses contatos é que formam a cumplicidade necessária entre candidatos e bases.
É claro que a força poderosa das cúpulas enfia goela abaixo das bases candidaturas sem compromissos. Mas é claro também que isso quase em 100% das vezes em que ocorre termina muitíssimo mal. Novamente as eleições do ano passado servem como exemplo. O PP teve que engolir a candidatura do republicano Vanderlan Cardoso, mas não houve digestão. As bases do PP passaram o tempo todo minando o caminho de Vanderlan e limpando a avenida para Marconi. Isso ocorreu, e acontece sempre, porque não se pode confundir base partidária com massa de manobra.
Enfim, o governador Marconi Perillo, embora não tenha feito referência direta ao senador Demóstenes Torres, colocou a faca e o queijo nas mãos do democrata. Resta a ele construir o prato com a argamassa das bases. Ou se lamentar depois. Aliás, nesse caso não seria somente ele no muro das lamentações de 2012. Seria a base inteira.
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